Seguidores

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Projeto Séculos Indígenas no Brasil
 
Apresentação :
Eram dias de junho de 1992 quando na capital alemã, Berlim, dava-se o encontro a partir do qual viria a ser desenvolvido um projeto pioneiro de registro sobre a realidade, a riqueza e a diversidade das culturas e da espiritualidade indígena no Brasil. A ocasião uniu as intenções éticas e estéticas do cineasta Frank Coe e a experiência política e espiritual do líder indígena Álvaro Tukano, a partir de uma intenção comum: oferecer à opinião pública uma visão crítica da realidade dos povos indígenas no Brasil, privilegiando a iniciativa de seus próprios protagonistas. A atmosfera que os animava era a mesma que, no Rio de Janeiro, abrigava a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a ECO-92. Grandes eventos marcando o fim de um século e dando ocasião a outros, os Séculos Indígenas no Brasil.
O Projeto Séculos Indígenas no Brasil tem suas raízes em um momento significativo de nossa história cultural e política recente. Despertava então, principalmente através dos meios de comunicação de massa, uma visão ecologicamente sensível em várias esferas da cultura globalizada. De proteção do meio-ambiente, passava-se a um discurso de sustentabilidade da vida planetária. Vozes proféticas se faziam ouvir, anunciando mudanças climáticas, denunciando a inviabilidade ética de monoculturas em detrimento dos avanços tecnológicos para tal, alertando contra o reducionismo da natureza pela cultura capitalista, e rechaçando a noção de desenvolvimento calcado na pilhagem do planeta.
Considerados radicais na época, hoje estes temas exigem atenção de todos os setores da sociedade. Contudo, o tom de denúncia visava um aprendizado do qual ainda carecemos: encontrar meios criativos, de forma pública e democrática, para um desenvolvimento integral e sustentável que alcance a todas as dimensões da vida, em vista do futuro de diferentes sistemas de vida – entre os quais as culturas humanas.
Nesse histórico, a liderança de diferentes etnias e comunidades indígenas tem sido presença significativa. Homens e mulheres de diferentes regiões do país, que insistem em afirmar que sua cultura, sua sabedoria e sua visão de mundo não apenas podem ajudar a reconhecer os pontos críticos desse amplo debate, mas fornecer meios para superar vários desses desafios. Contudo, para que fossem ouvidos, tinham de se tornar antes visíveis para a sociedade brasileira.
Conceito
Índio todo mundo sabe o que é. Ou criou na cabeça que sabe. O cru e o cozido. A partir daquelas imagens que nos chegaram nos romanceios e letras de Alencar, Gonçalves Dias, nos delírios dos cronistas, nas crônicas dos padres, nas cartas régias e nos regimes oficiais que foram se multiplicando... e ou na insensatez dos livros da escola e na espetacularização da TV. Como se todos tivessem falado tudo. Esgotado.
Indígenas, uma nova forma de se dizer índio, de se ver o índio, de identificar o índio como o próprio da terra (...) depois da raiz provocadora que Mário Juruna, Marçal Tupã’i, Ângelo Kretã e outros guerreiros anônimos tinham fincado uma década antes, que remonta há quantos tempos...“Séculos Indígenas” é isso: um projeto de registro de situações, de falas, de emoções, em que se procura deixar que flutue a percepção dos povos indígenas em um dos tempos em que o movimento social desses povos de vozes polissêmicas encontrava-se em um único som de desejos e aspirações.
“Séculos Indígenas” é isso: um projeto de registro de situações, de falas, de emoções, em que se procura deixar que flutue a percepção dos povos indígenas em um dos tempos em que o movimento social desses povos de vozes polissêmicas encontrava-se em um único som de desejos e aspirações.
- André R. F. Ramos, historiador e indigenista
(Séculos Indígenas no Brasil: catálogo descritivos de imagens, Fundação Darcy Ribeiro/Edipucrs, 2008)
Itinerários
Seguiram-se os passos para viabilizar o que já ganhava contornos de um projeto de produção audiovisual e fotográfico. Os caminhos se fizeram na busca de apoio técnico, recursos e, principalmente, novos encontros com pessoas que ajudassem a animar e – não menos – a dar corpo ao projeto.
O encontro com Ailton Krenak determinou os rumos do projeto, a partir de sua experiência como fundador do Centro de Pesquisa Indígena (CPI). O Centro, na ocasião, já somava uma rica experiência de formação de jovens indígenas de diferentes regiões do Brasil. O projeto visava torná-los mediadores de um conhecimento que capacitasse suas comunidades a desenvolver práticas sustentáveis de manejo de seus recursos culturais e naturais. Na definição de Krenak:
O Centro de Pesquisa Indígena não é um lugar. É o caminho que liga a memória da criação do mundo, presente nas narrativas tradicionais, no conhecimento antigo, com o conhecimento sobre o novo, no trabalho do cientista e do pesquisador.
Surgia, então, o itinerário de viagem, cenários, personagens e, finalmente, o argumento do projeto: o retorno desses jovens formados pelo Centro as suas comunidades de origem, sua adaptação nelas e o desdobramento da aliança, por vezes ruptura, que se dava, através deles, entre um novo conhecimento e a tradição recebida de seus ancestrais. Uma cuidadosa discussão sobre os temas mais relevantes a serem trabalhados levou a considerar a preocupação de expressar da melhor forma possível os traços particulares do universo que se revelava em cada comunidade indígena visitada.
Sob essas orientações, o projeto se desenvolveu em duas fases: a primeira, entre 1993 e 2004, é marcada pelos esforços de seus protagonistas, sem qualquer tipo de apoio institucional, o que sugere algo do desinteresse político que havia na época pelas questões indígenas. Entrementes, em 1997, a Fundação Darcy Ribeiro é criada, tornando-se importante motivadora do projeto, a partir do apoio que o próprio instituidor lhe dedicara. Em 2004, efetiva-se uma parceria com a Fundação em torno da realização do filme Maíra, ainda em desenvolvimento. A partir de 1999, o projeto alcança maior repercussão, graças especialmente ao apoio da então Senadora Marina Silva que, Ministra do Meio-Ambiente, em 2002, possibilitou o apoio do Governo Federal ao projeto, sobretudo, através do Ministério da Cultura.
Alcançadas as primeiras metas, o passo seguinte foi tornar público o acervo produzido através de duas exposições, em 2005, em Porto Alegre e no Rio de Janeiro. Uma rede de instituições apoiadoras se constituía, fornecendo o suporte ao desenvolvimento do projeto. Da parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisa em Cultura Indígena, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, através de Édison Hüttner, em 2008, foi publicado o Catálogo descritivo das imagens. A partir dessas parcerias consolidadas, o Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, DF, abriu caminhos de aproximação a Secretaria da Educação e a Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal, através de Marcos Terena. Também o apoio do Congresso Federal, através do Senador Cristovam Buarque foi firmado, formando o atual cenário de um novo ciclo de trabalho, com os olhos voltados à realização da terceira edição da exposição, prevista para 2010, em Brasília,

Nenhum comentário:

Postar um comentário